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Enquanto país gasta quase R$ 600 bi na dívida, secretário do Tesouro critica BPC

O setor público consolidado (União, Estados, Municípios e estatais) consumiu uma soma estarrecedora de R$ 599,937 bilhões apenas em juros da dívida pública entre janeiro e agosto deste ano. Somente em agosto, foram torrados R$ 74,261 bilhões para alimentar bancos e rentistas, segundo dados do Banco Central (BC) divulgados na semana passada.
Essa gastança indecente é um reflexo direto do ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), imposto pelo próprio BC desde setembro de 2024. No acumulado de 12 meses até agosto, o país despejou impressionantes R$ 946,5 bilhões (7,63% do PIB) no bolso dos detentores da dívida – um salto de R$ 91,5 bilhões em relação ao ano anterior.
A hipocrisia escancarada: juros versus assistência social
O que torna esses números ainda mais revoltantes é o contraste com o discurso oficial.
No dia anterior à divulgação desses dados, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, teve a audácia de classificar os gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC) – vital para milhões de brasileiros idosos e pessoas com deficiência que vivem na pobreza – como "preocupantes". Ceron chegou a reclamar que "não dá para manter esse ritmo de crescimento" das despesas com o BPC.
Enquanto o gasto do BPC em agosto foi de R$ 10,9 bilhões, o governo destinou R$ 74,261 bilhões em um único mês para agradar o mercado financeiro.
É um escárnio com a população: a elite financeira tem seu rendimento garantido e turbinado pela política de juros do BC, drenando quase sete vezes mais recursos do que o gasto com a assistência social básica dos mais vulneráveis. Essa política econômica privilegia explicitamente a especulação em detrimento da vida e joga a conta do ajuste fiscal nas costas de quem mais precisa. Os bilhões escoados para o rentismo são o verdadeiro e preocupante ralo das contas públicas.