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Coordenador do Sindjuf/SE fala sobre meritocracia e inclusão da pessoa com deficiência em evento do TRT20

Meritocracia, o principal argumento daqueles que são contra políticas de cotas, é a lógica por meio da qual se recompensa o indivíduo por mérito próprio, por esforço, desempenho e habilidades individuais, desconsiderando desigualdades e privilégios estruturais. Foi sobre esse tema e como ele aprofunda a exclusão de pessoas com deficiência que o coordenador-geral do Sindjuf/SE, Nicodemos Sá, falou no evento “Trabalho Decente: um direito humano fundamental”, promovido pelo TRT da 20ª Região na última sexta-feira, 25.
Aberto ao público e reunindo servidores, magistrados, advogados, estagiários e jovens aprendizes, o evento teve o objetivo de reforçar o compromisso do tribunal com a promoção de ambientes de trabalho mais justos e humanizados. Houve palestras sobre etarismo, trabalho seguro para mulheres, assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, o papel do sistema de justiça no combate ao trabalho escravo contemporâneo e a importância da atuação articulada entre as instituições.
Durante sua fala, Nicodemos Sá apresentou conceitos de meritocracia, como o do economista francês Thomas Piketty, que a definiu como a ideologia que mascara desigualdades, como antes a nobreza usava o nascimento (quando as posições sociais eram determinadas pelos laços sanguíneos).
O sindicalista explicou como alcançar objetivos e conquistar o que se considera sucesso na sociedade contemporânea é fortemente influenciado por fatores que vão além do esforço individual, como família, ambiente geográfico, condição financeira, raça, entre outros.
“A meritocracia diz respeito a recompensar quem já parte de posições privilegiadas. Há uma falsa neutralidade na meritocracia, passando a ilusão de igualdade de condições, mas que, na verdade, ignora barreiras como pobreza, racismo, capacitismo e exclusões históricas”, disse.
E continuou: “o sistema meritocrático afeta as pessoas com deficiência, ao cobrar um desempenho padrão, sem considerar barreiras como acessibilidade, preconceito, falta de apoio; e ao avaliar o mérito sem levar em conta o ponto de partida”.
Nicodemos enfatizou ainda que, apesar da existência de cotas para pessoas com deficiência, a lógica meritocrática ainda é fortemente aplicada nos concursos públicos das carreiras jurídicas, que adotam critérios rígidos e padronizados e reprovam candidatos com deficiência que não atinjam a nota de corte válida para a ampla concorrência, de modo que as cotas se tornem mais uma inclusão simbólica do que efetiva.
“É urgente revisar a lógica da meritocracia, principalmente, nos concursos públicos. Precisamos de inclusão real, com adaptações, continuidade das cotas e critérios mais sensíveis. Justiça não é tratar todos iguais, é remover barreiras para que todos possam competir de igual para igual”, concluiu.
Para assistir ao vídeo do evento completo, clique aqui.
(Fotos: Ascom/TRT20)