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Quem enlameou as Forças Armadas foram os militares que se uniram ao governo sujo de Jair

09/07/21 às 13:50 por Sindjuf/SE
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Por Cynara Menezes

 

Defesa, que nada fez contra a militarização da Saúde, agora ameaça o país por não aceitar investigação de corrupção sobre os seus

 

Em setembro de 2020, após uma interinidade de quatro meses, o general da ativa Eduardo Pazuello foi efetivado pelo presidente Jair Bolsonaro como ministro da Saúde do Brasil, sem ter nenhuma relação com a área. Pazuello, por sua vez, nomearia outros 22 militares sem formação em saúde para auxiliá-lo na pasta. No governo como um todo, a presença de militares em cargos ocupados tradicionalmente por civis aumentou 33% desde que o capitão reformado chegou ao Planalto.

 

Toda essa verdeolivização da administração pública, inédita após a ditadura, era considerada normal pelo comando das Forças Armadas. Mas, agora que surgiram as primeiras denúncias de corrupção do governo Bolsonaro, envolvendo justamente o militarizado ministério da Saúde, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, em vez de culparem a si mesmos por terem aderido à aventura bolsonarista, atacam o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz, por supostamente macular a imagem das Forças.

 

Nesta quarta-feira, após Aziz dar voz de prisão ao ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias, ex-sargento da Aeronáutica, os comandantes das três Forças soltaram uma nota dura, não contra o militar acusado de corrupção, mas contra o presidente da CPI. “As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano”, diz o texto, em tom de ameaça ao país. Os militares alegam que Aziz foi “desrespeitoso”, quando na verdade o senador apelara aos “bons” integrantes das Força “envergonhados” com os malfeitos praticados na Saúde.

 

“Os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mídia, porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo, fazia muitos anos”, disse Aziz a Dias durante sua oitiva, livrando inclusive a cara dos ditadores Ernesto Geisel e João Baptista de Figueiredo da corrupção durante a ditadura, que nunca apareceu porque era encoberta pelos militares, mantida longe da opinião pública graças à censura.

 

“Figueiredo morreu pobre, Geisel morreu pobre, porque a gente conhecia e eu estava naquele momento contra eles, mas uma coisa que a gente não acusava era de corrupção deles”, disse o senador, que não “generalizou” coisa nenhuma. Citou nominalmente o general Pazuello, o coronel Élcio Franco –dois dos militares que foram colocados pelo bolsonarismo na Saúde e que estão no epicentro das denúncias de corrupção.

 

Ora, se os militares acham normal ocupar o lugar de civis, também devem achar normal serem investigados por corrupção que nem os civis. Ou se consideram acima da lei? A CPI investiga sérias denúncias de propina na compra de vacinas pelo ministério da Saúde, em meio a uma pandemia, quando a pasta estava sob o comando de um general. Se fosse um civil o ministro, seria investigado. Portanto, o general também deve ser. Se não quisesse se igualar aos civis, que recusasse o cargo.

 

Quem enlameou as Forças Armadas foram os militares que aceitaram se unir ao governo sujo de Jair. Não podem nem sequer alegar que não sabiam com quem estavam se juntando. Bolsonaro é velho conhecido das Forças Armadas, e de lá não saiu com nenhuma medalha no peito. Foi alvo de processo disciplinar, chegou a ser preso, e foi para a reserva após ser acusado de planejar atentados a bombas em quartéis. Ou seja, saiu do Exército pela porta dos fundos, sem nenhum mérito ou louvor.

 

Quem aceita se juntar a um militar desonrado, desonrado é.

 

Fonte: Revista Fórum